In Correio da Manhã de 20NOV2005
Com o aeroporto da Ota poderei vir a facturar cerca de 500 milhões de euros
Mas, se o aeroporto fosse parar ao Rio Frio (… ou a outro lugar), ainda estaria a tempo para comprar terrenos no redor.
Tal como o fiz há alguns anos na Ota.
Aviso muito importante:
Esta entrevista merece a Classificação: XXXXX
Não é pois recomendável nem a menores nem a cardíacos.
Deve ser lida à luz da documentação principal da Conferência da Moita sobre Política dos Solos, Mais-valias Urbanísticas e Ordenamento do Território
Também ajuda ler numerosos outros textos publicados neste Blogue (ver Arquivos).
Dado ser uma verdadeira “lição prática”, conviria ter presentes muito em especial as lições teóricas 1 e 2 em
2. Manual Prático para se fazer fortuna choruda e rápida, à custa do Solo Rural e da actual Reserva Ecológica (REN) na Moita. Lição nº 2
Destaques de outras frases significativas:
- A fórmula de sucesso baseia-se na compra de terrenos em zonas baratas mas atraentes. E que possam vir a ter interesse estratégico para a localização de um armazém de logística. Depois, construimos edifícios, encontramos os inquilinos para pagarem a renda e vendemos o imóvel a um fundo de investimento.
- É melhor passarmos a falar de hectares. São 650. Alguns custaram-me dez euros. Hoje valem mais de 250. O metro quadrado poderá chegar com facilidade ao dobro, ou seja, 500 euros.
- Que grande negócio. Até então não valiam mais de 20 cêntimos. Todos ganharam.
- O Decreto Lei n.o 31 - A/99 de 20 de Agosto de 1999, que impedia todo o tipo de construção na zona. Fiquei com cinco terrenos ‘congelados’ (100 mil metros quadrados). Por causa da lei, vários negócios não foram ainda para a frente. Entretanto, o Decreto-Lei deverá ser revogado para o próximo ano e o Plano Director Municipal reformulado.
- As boas relações com as câmaras municipais são meio caminho para um negócio de construção ter pernas para andar? Sim.
- Se o ministro anunciasse que afinal o aeroporto iria para Rio Frio, tem ideia do dinheiro que perderia? Não iria com certeza perder dinheiro, só não teria o mesmo lucro. Mas, se o aeroporto fosse parar ao Rio Frio, ainda estaria a tempo para comprar terrenos no redor. Tal como o fiz há alguns anos na Ota.
In Correio da Manhã de 20NOV2005
Em itálico, as perguntas do(a) Jornalista
António Varela, um engenheiro civil de 55 anos, é o maior proprietário de terrenos para construção imobiliária em redor do futuro Aeroporto da Ota: o equivalente a 650 campos de futebol ou duas Expo’98. O dono da Tiner chegou a comprar propriedades por dez euros por metro quadrado. Hoje, algumas valem 250. E daqui a cinco anos, talvez 500.
O empresário aguarda com confiança a proposta do ministro das Obras Públicas, Mário Lino, sobre os destinos da Ota, na próxima terça-feira, 22. Tem razões para isso. A sua empresa factura 100 milhões de euros. E num futuro próximo poderá chegar aos 500 milhões. No entanto, neste último ano teve dissabores igualmente ligados à aviação. O seu Citation X foi apreendido na Venezuela com cocaína a bordo.
A sua empresa de construção civil, obras públicas, imobiliário, fundos de investimento, a Tiner, tem hoje uma facturação anual de 100 milhões de euros. Quando é que tudo começou?
Quando fundei a Tiner, em 1984, era uma empresa pequena que fazia fundações e infra-estruturas. O grande salto deu-se em 1995, quando fizemos os primeiros grandes armazéns de logística em Portugal,
A fórmula de sucesso baseia-se na compra de terrenos em zonas baratas mas atraentes
E que possam vir a ter interesse estratégico para a localização de um armazém de logística. Depois, construimos edifícios, encontramos os inquilinos para pagarem a renda e vendemos o imóvel a um fundo de investimento. Com o dinheiro investimos em novos imóveis que podem dar origem a ‘outlets’, ‘retails’, ‘shoppings’, escritórios e até habitação.
Quais foram os seus grandes projectos?
A construão do Campera, o primeiro ‘outlet’ em Portugal e o de Grijó, junto a Vila Nova de Gaia. Neste momento, temos dois ‘retails parks’ a ser construidos em Almeirim e no Carregado, um pólo de armazéns em Palmela, junto à Auto-Europa e outro pólo logístico na Azambuja.
Azambuja, Vila Franca de Xira, Alenquer. Três concelhos que têm muito a ganhar com a construção do futuro aeroporto da Ota e onde a Tiner tem comprado muito terreno
Tudo começou quase acidentalmente, em 1997, quando construí três armazéns na Azambuja, a pedido da ESAF. Fui conhecendo o meio, a perceber as suas potencialidades e fui adquirindo propriedades.
Não me diga que em 1997 ainda não se falava no aeroporto?
Muito pouco. Não havia certezas de nada. Só mais perto do ano 2000 é que as coisas se tornaram mais claras.
Quantos metros quadrados comprou nesta zona?
É melhor passarmos a falar de hectares. São 650. Já representam mais de metade dos meus terrenos em todo o mundo. Ainda por cima comprados a preços baixos. Alguns custaram-me dez euros. Hoje valem mais de 250.
Que grande negócio
Sim, mas o preço também agradava aos meus vendedores. Até então não valiam mais de 20 cêntimos. Todos ganharam.
É verdade que o grande salto no preço dos terrenos se deu em 1999 quando a então ministra do Ambiente, Elisa Ferreira anunciou que a candidatura da Ota vencera a de Rio Frio?
Sim. Mas era uma subida artificial já que nessa altura pouca gente comprava terrenos na zona. Ainda hoje o negócio da compra e venda de terrenos perto da Ota é incipiente.
Então e a tão falada especulação imobiliária no Carregado, Alenquer, Azambuja?
A especulação existe. Há quem se dedique apenas à compra e venda de terrenos. Embora se ganhe bom dinheiro com isso, essa não é a minha forma de estar na vida. Não sou um vendedor de terrenos. Sou um vendedor de edifícios prontos a construir nesses mesmos terrenos.
Hoje, com terrenos à venda por 250 euros o metro quadrado, desaconselharia por exemplo um empresário menos experiente a investir na região?
Embora eu não tenha comprado lá nada recentemente, se tivesse um cliente com vontade de investir na Ota, dava-lhe sinal verde. Ele não iria perder dinheiro, embora já não lucrasse tanto como há cinco anos.
Ficou preocupado quando os governos de Durão Barroso e Santana Lopes arrumaram o dossier na gaveta?
Felizmente esse adiamento só se aplicou no concelho de Alenquer, com o Decreto Lei n.o 31 - A/99 de 20 de Agosto de 1999, que impedia todo o tipo de construção na zona. Fiquei com cinco terrenos ‘congelados’ (100 mil metros quadrados). Eram propriedades com valores de mercado muito elevados porque se situavam no núcleo urbano do Carregado. Estavam (e estão) destinadas para um grande shopping. Por causa da lei, vários negócios não foram ainda para a frente.
Perdeu dinheiro com esse adiamento dos governos PSD?
Não. Apenas me incomodou o atraso que o decreto-lei iria causar ao desenvolvimento dos meus projectos. Mas acreditei sempre que o aeroporto da Ota seria irreversível. Entretanto, o Decreto-Lei deverá ser revogado para o próximo ano e o Plano Director Municipal reformulado.
Quando as obras do aereoporto arrancarem, quais são as previsões do seu volume de negócio?
Temos uma estimativa, pessimista, de 500 milhões de euros. Mas poderão ser mais.
Não tem receio que algo possa correr mal pelo caminho?
O único medo é a nossa economia recessiva. Mas parece que as coisas irão mexer-se mais em 2007.
A Tiner é a empresa com mais terrenos na zona da Ota?
Sim, sou o maior detentor de áreas de terrenos para construção na região. E ainda não tenho muitos concorrentes
É sabido que as suas relações comerciais com o Grupo Espírito Santo se mantém nos dias de hoje. Por que não se associou a eles na compra destes terrenos?
Encontrei outros parceiros ligados a fundos de investimentos imobiliários nacionais e estrangeiros que me deram melhores condições financeiras. Não posso revelar nomes, mas avanço que são de nacionalidade alemã e inglesa.
Com a vitória de Sócrates, a Ota voltou à ribalta. Na próxima terça-feira, o ministro das Obras Públicas, Mário Lino, anunciará o projecto da Ota. Espera surpresas?
Não espero surpresas desagradáveis da boca do ministro, que aliás não conheço. Mas tal como ele, acredito que não podemos ficar desligados do resto da Europa, sob o risco de perdermos o comboio do desenvolvimento. O aeroporto é uma forma da economia sair do marasmo.
A 20 de Maio também participou na reunião secreta entre autarcas e empresários da zona do Oeste com Mário Lino a exigir que este definisse um calendário para a construção do aeroporto?
Não, porque passo muito tempo a viajar pelo mundo e não tenho tempo para isso. Mas ouvi falar dela. Infelizmente não sei as conclusões que saíram de lá.
Se o ministro anunciasse que afinal o aeroporto iria para Rio Frio, tem ideia do dinheiro que perderia?
Não iria com certeza perder dinheiro, só não teria o mesmo lucro. Mas, se o aeroporto fosse parar ao Rio Frio, ainda estaria a tempo para comprar terrenos no redor. Tal como o fiz há alguns anos na Ota.
As boas relações com as câmaras municipais são meio caminho para um negócio de construção ter pernas para andar?
Sim. Gosto que percebam que não sou um especulador. Os meus projectos imobiliários são desenvolvidos do princípio ao fim.
É amigo dos presidentes das câmaras onde detem estes terrenos: Álvaro Pedro, de Alenquer, Joaquim Ramos de Azambuja, Maria da Luz Rosinha de Vila Franca de Xira?
Dou-me bem com todos eles. São pessoas dinâmicas e com muitas ideias para a região.
Curiosamente são todos políticos do PS
E depois? Neste momento os sociais-democratas são muito mais prejudiciais para nós, porque se opõem ao aeroporto.
Tem lido na Internet os rumores a circular sobre a Ota?
Não tenho lido muita coisa Como defendo que ainda não há verdadeiros negócios relacionados com a Ota, não consigo perceber onde possa haver os tão falados negócios escuros.
Nem quando se fala em ligações mais nebulosas entre poder político e económico?
É mentira. Quando oiço falar de políticos de um determinado partido que seriam detentores de terrenos na Ota, sei que é absoluta mentira. Só se houver uma encenação muito sofisticada sobre os registos de propriedades e no nosso país isso é impossível. Todos os rumores não passam de especulação.
A que se devem estes boatos? Haverá ‘lobbies’ divergentes por detrás deles?
Fala-se de ‘lobbies’: dos da Ota, de Rio Frio, etc. Mas não acho que existam ‘lobbies’ nenhuns. O cidadão comum gosta muito de criar teorias da conspiração.
Diz que ainda não há negócios a sério na Ota. Então quando é que a corrida aos apeteciveis terrenos terá início?
Talvez em 2009 ou 2010, quando começarem as obras. Uma coisa é certa: todo o mundo económico irá instalar-se naquela zona por essa altura. Quanto a mim, não temo a concorrência. Não penso em lucros rápidos.
Será então que o preço dos terrenos voltaráo a disparar?
O metro quadrado poderá chegar com facilidade ao dobro, ou seja, 500 euros. Um valor tão alto como em alguns terrenos em Lisboa.
É um dos homens mais ricos e influentes do país, no entanto evita sair em revistas sociais, não gosta de ser fotografado
Sempre preferi a discrião. Até porque no meu negócio nunca tive muita concorrência. Só passei a ser mais famoso depois do meu avião privado, o Citation X ser apreendido na Venezuela há um ano.
Os aviões e helicópteros são as suas grandes excentricidades?
Gosto de pilotar e de ser dono destes aparelhos. Tenho dois helicópteros: um deles comprado há quatro anos, custou-me 3,6 milhões de dólares. Pelo outro, que tem dez anos, paguei 400 mil dólares. Caríssimos! Uso-os quando vou ver obras minhas no interior do pais. Aos fins-de-semanas vou até às minhas duas herdades, a Quinta da Alegria,
Que ao que consta é uma ilha paradisíaca no estuário do Tejo.
Corre para aí o boato de que ando a construir ‘resorts’ e hotéis de luxo. É tudo mentira. Convido os forcados da região para treinarem os meus novilhos, sendo eu o único espectador. Noutras ocasiões, faço eu de toureiro. É o meu sangue ribatejano a correr-me nas veias.
Há um ano que, o seu Citation X - o avião privado mais rápido do mundo (custou 15 milhões de euros) está apreendido na Venezuela por transporte ilegal de cocaína. Ainda pensa reavê-lo?
O ritmo dos julgamentos foi acelerado desde o encontro de Sampaio com as autoridades venezuelanas. Acredito na libertação de quatro dos detidos (co-piloto, idosa que viajou por convite das duas amigas e dois guardas) e na do avião. O vice-presidente da Venezuela queria ficar com ele mas caiu
É verdade que está a ter um prejuízo de 250 mil euros por mês por ter o avião apreendido. Quem está a pagá-lo?
Até agora, continuo a arcar com todas as despesas do avião. Mas serei ressarcido pela seguradora, embora não me tenham dado certezas nenhumas. O processo já entrou em tribunal e não haverá volta a dar. Voltarei a ter esse dinheiro.
Porque decidiu fazer um contrato com a Air Luxor, em 2002, dois anos depois de comprar o Citation X?
Foi a Air Luxor que me propôs o negócio: afinal eu só o usava três vezes por mês, tinha de pagar seguro, manutenção, pilotos. Poderia rentabilizá-lo, cedendo-o como uma espécie de táxi aéreo. Era atraente.
Quanto dinheiro é que ganhava com esse acordo?
No início, quatro mil euros por hora. Mas com a recessão, o valor acabou por baixar. Pensávamos que o Citation X voaria mil horas por ano, mas só foi usado 80 horas, o que era muito abaixo das minhas expectativas. Nos últimos meses, estava só à espera do momento certo para terminar de vez o negócio com a Air Luxor. Mas já foi tarde.
E em Outubro de 2004, duas idosas de Arraiolos foram apanhadas com cocaína a bordo. As autoridades nunca o alertaram para as actividades ilícitas ligadas aos voos privados?
De maneira nenhuma. Nunca tive conhecimento de episódios desses. A Air Luxor sempre me deu a confiança de que os voos eram seguros.
Os seus negócios foram afectados pela publicidade negativa?
Talvez, embora de forma indirecta.
Não pensa processar a companhia aérea por danos morais?
Já tinha pensado nisso. Se tivesse nos Estados Unidos certamente que não hesitaria. Mas em Portugal é completamente diferente uma vez que os processos se arrastam nos tribunais eternamente. Só tenho a certeza de uma coisa: quando um dia reaver o Citation X, nunca mais o alugarei. Esta história bastou-me.
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