quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

"O dinheiro compra tudo." Solo rural, honra, ética e transparência de pacotilha, desanexações de REN, decisores políticos, altos funcionários...?












Interesses imobiliários mexem com terrenos localizados na zona do Campo de Tiro de Alcochete

11.01.2008, Ricardo Dias Felner

Jornal Público

Construtor da Margem Sul Emídio Catum, família Lupi, BPN e BES já estão posicionados nos terrenos perto do novo aeroporto

Jaime Ramos, 59 anos, aparece no armazém de tractor, visivelmente feliz, vindo da zona das estufas de flores, mesmo ali ao lado. Proprietário de um terreno com 20 hectares, a 300 metros da porta principal do Campo de Tiro de Alcochete, o agricultor soubera há poucos minutos da decisão do Governo de "meter" ali o novo aeroporto. "A partir de hoje, esta terra tem outro valor. Se me derem bom dinheiro, vendo tudo", diz.
Na propriedade contígua, Ilda Andrade, 52 anos, também produtora de flores, tinha a mesma esperança. Mas lançava alertas. A associação ambientalista Quercus mantinha-se reticente quanto à escolha. E poderia repetir a batalha que travara, há mais de dez anos, contra a Ponte Vasco da Gama. "Ainda os temos à perna."
A mulher, dona de cerca de 30 hectares, teme ainda outro papão - o "lado mau" das obras públicas: as expropriações. Há uns anos sofreu na pele a imposição de venda de terrenos por parte do Estado - na Moita, onde foram construídos o IC33 e o IC32 - por "uma ninharia". E tem boas razões para acreditar que isso pode voltar a acontecer. "Apareceram aí uns senhores para sondar a propriedade com vista à construção da linha do TGV."
Nada disto chega para lhe tirar o sorriso da cara. Ainda ninguém lhe fez qualquer proposta de compra, mas sabe que os grandes empresários da região estão no mercado. "Um grande construtor do Montijo já comprou muitos terrenos daqui, nomeadamente no Rio Frio e na Barroca [zonas em volta do campo de tiro]. Estava com certeza bem informado."
O homem a que Ilda se refere é Emídio Catum, um dos maiores construtores da Margem Sul e dono de vários meios de comunicação social do distrito de Setúbal. Os terrenos em causa, segundo disse, teriam sido adquiridos a Samuel Lupi, o maior proprietário daquela região, conhecido empresário e ganadeiro ligado à tauromaquia, bem como à família Garcia.

Família Lupi quer golfe
António Lupi parece um surfista quarentão, barba por fazer, t-shirt e pólo, óculos Ray Ban - e um registo rude. Na propriedade da Barroca de Alba, de volta da motoquatro do seu filho, diz que o aeroporto é assunto que não lhe interessa. "Sim, somos os maiores proprietários da zona. Temos 2000 hectares que vão até ao campo de tiro. Mas vivemos da agricultura, cultivamos arroz e milho, e queremos que os nossos filhos cresçam ligados à terra. Isso é bom é para o pessoal da especulação imobiliária."
Questionado sobre a compra de terrenos por Emídio Catum, foge ao assunto, mas admite que uma propriedade que vendera à família Garcia, em Rio Frio, havia sido comprada pelo construtor do Montijo, para um "óptimo" projecto turístico. De acordo com notícias recentes, a Câmara de Palmela deu parecer positivo a esse empreendimento, que poderá também envolver o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.
Assumindo-se "muito amigo" de Emídio Catum - "um homem com uma grande visão, que previu há 20 anos a construção da Vasco da Gama" e "que comprou muita coisa" -, António Lupi admite, por fim, que também a sua família tem um projecto turístico "de 12 milhões de contos", com golfe e alojamento.
Apesar de desalentado com os atrasos nesse processo, Lupi diz que o caso não é "tão complicado" como o do polémico Portucale. "Eles não fizeram as coisas quando deviam ter feito. Esticaram-se. Deviam ter resolvido tudo quando lá estavam os deles", comenta.

"O dinheiro compra tudo"
Continuando a percorrer os terrenos em torno do Campo de Tiro de Alcochete, chega-se à herdade de Ilídio Azenha. O homem recebe o PÚBLICO com desconfiança. Está a construir uma enorme vivenda com dois pisos, mais um "pavilhão" ao lado do tamanho de um campo de andebol, onde pretende fazer "festas, casamentos e baptizados, para a família".
Apresentando-se como responsável mas não dono da herdade, depois como "xerife", Ilídio Azenha assumiria finalmente ser o proprietário do terreno e um construtor famoso. "Já devem ter ouvido falar do meu nome, há aí uns painéis de publicidade."
O construtor conhece bem Catum e os Lupi. "O Emídio é o maior. Mexe-se bem. Chega onde eu não consigo chegar. Acho que faz parte da Maçonaria. Há um ano comprou mais de mil hectares no Rio Frio ao Garcia, junto à Barragem da Venda Velha, a seis quilómetros daqui", afirma, acrescentando de seguida pormenores sobre os negócios da família Lupi. "Eram donos disto tudo." "Só fui sondado para me comprarem este terreno pelo presidente [do clube] da Naval, que está ligado ao BPN. O BPN comprou aos Lupi o terreno ao lado, para uma urbanização com campos de golfe", afirma, mostrando-se convicto que o projecto já foi aprovado.
Quanto à sua própria herdade, 60 hectares, deixa o anúncio: "O dinheiro compra tudo."

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