Sexta-feira, 4 de Maio de 2007
Livro do Professor Doutor Sidónio Pardal “A Apropriação do Território — Crítica aos Diplomas da RAN e da REN, Sidónio Pardal, editado pela OE-2006"
Livro do Professor Doutor Sidónio Pardal “A Apropriação do Território — Crítica aos Diplomas da RAN e da REN, Sidónio Pardal, editado pela Ordem dos Engenheiros, 2006.”
PREFÁCIO da responsabilidade do Bastonário da Ordem dos Engenheiros, Engenheiro Fernando Santo, à obra do Professor Doutor SIDÓNIO PARDAL, Urbanista, Arquitecto Paisagista e Engenheiro Agrónomo. Professor da Universidade Técnica de Lisboa
Analisar as diferentes formas de apropriação do território é um exercício indispensável para se compreender o estado actual do ordenamento e como as matérias do urbanismo e do planeamento potenciam a conflitualidade e a injustiça relativa, resultantes da distribuição de mais-valias por via administrativa.
A visão parcelar do território submetido a diferentes tipos de planos e de leis especiais, como são os casos da Reserva Agrícola Nacional (RAN) e da Reserva Ecológica Nacional (REN), tem acentuado as contradições entre conceitos, tratando-se cada espaço como uma ilha.
No passado, o terreno valia em função da sua produção agrícola ou da exploração de outros recursos, mas, com o advento dos loteamentos, os terrenos passaram a valer em função da produção de m2 de construção concedidos por via do licenciamento.
A equação das relações sociais tem um enquadramento territorial que faz parte da condição humana, multiplicando-se numa teia de interdependências onde se jogam direitos, interesses e poderes. Por isso, é difícil a compreensão objectiva de um sistema onde nos movemos quase por instinto, ao mesmo tempo que necessitamos de o conhecer cientificamente e de o projectar e construir com engenho e arte.
A planificação do território apresenta-se como um complexo desafio a enfrentar por uma engenharia integrada, com formação multidisciplinar alargada. Os planos territoriais, sendo cada vez mais determinantes do valor e utilidade do solo, têm de ser confrontados com os seus efeitos sobre o mercado fundiário. A expressão da Economia e do Direito em matéria de ordenamento e gestão do território carece de conjugação e fundamentação com as Engenharias num plano avançado em razões de justiça, de confi ança e de rigor técnico e científico.
O estudo aqui apresentado desenvolve um pensamento sobre uma realidade que transcende os aspectos conjunturais do sistema de planeamento vigente, nomeadamente no que se refere à questão dos regimes da RAN e da REN, apresentando-se como uma pertinente interpelação ao poder do Estado, em particular na sua vertente legislativa, e procura ir ao encontro de respostas para os desafios do ordenamento do território.
A organização do território não prescinde do planeamento, mas pode ser vítima dele quando este se processa segundo ideias erradas e dogmáticas que se transformam em factores de desordenamento.
A destruição de recursos naturais e de valores paisagísticos, a perda de oportunidades de construir um património edificado com rasgo urbanístico e arquitectónico, até que ponto, bem vistas as coisas, não se deve ao fracasso do sistema de planeamento vigente? Esta interrogação coloca-nos perante a obrigação de observar, pensar e avaliar até que ponto se verifica esta surpreendente relação de causa/efeito. A constatação de que os planos territoriais, no seu conteúdo, ignoram a realidade do mercado imobiliário e passam à margem das repercussões que têm sobre os valores dos prédios e a economia do território é motivo de espanto e de reflexão. Como é possível que estes erros e omissões tenham permanecido quase ocultos, não obstante o facto de estarem à vista?
Merece atenção o contributo, nunca demasiado, para reavivar memórias de excelência intelectual, onde se inscreve a notável proposta de lei de Oliveira Martins sobre o fomento rural, percursora e inspiradora da Lei do Regime Florestal que continua ignorada. A comparação entre a legislação urbanística, posterior a 1965, e a legislação dos anos 30 e 40 não pode escapar a uma avaliação crítica, sob pena de não se compreender o problema do ordenamento do território.
A Ordem dos Engenheiros cumpre um imperativo de consciência ao publicar este trabalho, que para além de um despertar da memória faz uma crítica pertinente e, porventura, um combate a vícios e erros. Apresenta-nos também uma base teórica com princípios que alicerçam propostas para um exercício lógico e coerente do planeamento do território.
O rumo que conduz à implementação das reformas necessárias ao desenvolvimento da nossa economia e à defesa dos nossos patrimónios passa por cultivar a prática do pensamento analítico e crítico, pela refutação de ideias dogmáticas e de procedimentos estereotipados impropriamente associados à ruralidade, às questões ambientais e à ecologia. Também nesta vertente, este livro dá-nos esclarecimentos e argumentos que ajudam a compreender o jogo de interesses, poderes e necessidades que se cruzam no âmbito do planeamento do território.
Parabéns ao seu autor pela possibilidade que nos deu de abrir novos horizontes de reflexão.
Fernando Santo
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