As causas externas influenciam cada um por via das causas internas
É sabido que os mesmos estímulos geram diferentes reacções em diversas pessoas.
As reacções são de cada um, como é natural.
Justificá-las pelos estímulos é redutor.
E pode ser muito enganador.
Veja-se o exemplo de um despedimento colectivo, onde 300 trabalhadores perdem o seu posto de trabalho.
Na ocasião, alguns mobilizam-se e organizam-se contra o desfecho anunciado, outros não.
Há depois uma série deles que vão à luta e conseguem defender-se e às suas famílias, e porventura partir para novas oportunidades.
Outros ficam à espera passivamente no centro de emprego.
Há mesmo um que se suicida.
Pode dizer-se que esse se matou porque perdeu o emprego?
Nada de mais errado.
Ele pôs fim à vida porque tinha graves problemas pessoais, a ocasião do fecho da empresa foi o enquadramento, mas qualquer outra contrariedade pessoal poderia ter desempenhado do mesmo modo o papel aparente de “causa imediata”.
Sem o ser.
A causa estava no interior do suicida.
Vem esta breve reflexão a propósito da velha constatação que o medo reside nos olhos daquele que receia.
Diante da contrariedade ou do risco, há o que salta em frente, há o que salta para trás e há ainda o outro que se borra todo no sítio, petrificado.
E a contrariedade ou o risco eram por igual para todos.
Mas todos eram diferentes.
Ainda por outras palavras:
Pode ser-se livre debaixo da ditadura? Na prisão, inclusivamente?
Em certo sentido, claro que sim.
Não há machado que corte a raiz ao pensamento.
Não há grades nem cadeias para nós.
E será que se pode viver como na ditadura em pleno regime de liberdade?
É evidente que sim, também.
Basta cada um colocar as grades da prisão e os pavores da repressão dentro dos próprios miolos, e olhar o mundo em redor com um espírito de servo e como se não passasse de uma simples e reles coisa.
O medo está nos olhos de quem vive e vê.
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