Em outra parede, tudo aquilo que se deve afastar: o contramodelo, o mau governo, o tirano (figura 9). Na distribuição dos afrescos nas paredes, a primeira imagem que Lorenzetti oferece ao visitante do Palácio Comunal é a do tirano, da esquerda para a direita.
Lorenzetti coloca o tirano como uma figura maléfica, demoníaca, um príncipe do mal. Ele é a própria encarnação do Diabo: pálido, possui longos chifres e caninos afiados, dois sinais indicadores de sua presença (LINK: 1998, 57 e 76-77) — em Verona e em Milão, como em quase todas as comunas da Itália no século XIV, reinam tiranos; suas famílias são conhecidas como “raças de dentes compridos” (DUBY: 1979, 311).
Este tirano satânico é vesgo. Ele usa uma capa dourada — para os medievos esta era a cor da falsidade, dos personagens maldosos, indicando a presença do mal (LE GOFF: 1989, 28) — e veste-se de negro. Desde os séculos II-V, o Diabo era descrito nos livros apócrifos como um etíope negro (LINK: 1998, p. 63; BROWN: 1990, 143-155). O demônio personalizava as forças do cosmo que as populações pagãs temiam: numa visão do inferno — por ter tido três mulheres e praticado outros adultérios —, o monge franco Baronte de Berry (antes de 678), viu os diabos, negros, despedaçando suas vítimas com unhas e dentes para melhor devorá-las: “Milhares de homens gemendo de tristeza, presos e garroteados pelos demônios que giram a seu redor como abelhas em torno da colméia [...] esmagados pelos suplícios, emitem longos urros.” (ROUCHE: 1991, 494).
Efeitos do Bom Governo e Efeitos do Mau Governo.
Ambas refletem uma paisagem realista da Siena da época. Na representação alegórica do bom governo, prósperos cidadãos estão praticando o comércio e dançando pelas ruas. Além dos muros da cidade, há um verde campo onde acontece a colheita. Na alegoria do mau governo, a crise é extensa e cidadão doentes vagueiam por uma cidade
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