A Um Negrilho
Na terra onde nasci há só um poeta.
Os meus versos são folhas dos seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos,
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada.
Esse poeta és tu, mestre da inquietação
Serena!
Tu, imortal avena
Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
Redil de estrelas ao luar maninho.
Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!
Miguel Torga (12-08-1907 17-01-1995)
S. Martinho de Anta, 26 de Abril de 1954.
Vim ver a azálea e o negrilho. Ambos rujuvenesceram, depois de um pânico ameaço de morte. E quis, supersticiosamente, verificar de perto a ressurreição que alvoroçadamente me foi anunciada.
Celebra-se hoje (12 Agosto) o centenário do nascimento de Miguel Torga, celebração que tem o seu auge na cidade de Coimbra. Proposto três vezes para Prémio Nobel da literatura é um dos escritores que melhor souberam interpretar Portugal. O Governo não se fez representar nesta efeméride. Não merece nenhum comentário esta ausência. A dimensão da obra e vida deste escritor fala por si.
Sem comentários:
Enviar um comentário