domingo, 5 de agosto de 2007

Obrigado Munícipes do Barreiro e "trabalhadores da Fábrica da Verderena". Obrigado Senhor Ant. Cabós Gonçalves. Obrigado Senhor Ant. Sousa Pereira.







Diz que é uma espécie
de BLOGUE DE NOTAS do Barreiro
Por António Sousa Pereira

Afinal, todos eles, deram uma grande lição aos nossos políticos!

Se, de facto, por alguma coisa valeu esta reunião Extraordinária da Assembleia Municipal do Barreiro, foi pelo período de intervenção do público - na sua sinceridade, na sua simplicidade, no seu sentido dramático.

Depois, foi escutar o vereador João Soares, a recordar que – “fui eu que assinei os cartões de vendedor de muitos de vós” - e acrescentou – “fui eu que assinei a carta que receberam, a qual como disseram foi o dia mais triste da vossa vida”.

Dia 1 de Agosto
A Lição de Cidadania


O Auditório da Biblioteca Municipal do Barreiro estava repleto. Não era a primeira vez que tal acontecia em reuniões da Assembleia Municipal do Barreiro.
Basta lembrar os dias em que dezenas de trabalhadores e técnicos da “RUMO” encheram a sala, ou, também, quando os dirigentes e técnicos do Jardim de Infância “Os Reguilas” marcaram presença de forma plena.
Isto, para, obviamente, não falar das reuniões que decorreram em Santo António da Charneca, quando do debate sobre as AUGI’s.
Mas, parecia que existiam pessoas eufóricas, comentando : “uma lição de participação”.
De facto a memória é muito curta, quando só se olha para o próprio umbigo.
Afinal parece que a “participação” começou agora. Isto é pura demagogia política.
A participação existirá sempre quando as pessoas se mobilizarem pelos seus interesses.
Mas será que alguém tem dúvidas que, no Barreiro, quando as pessoas sentem que devem lutar pelos seus direitos comuns, ninguém as cala, ninguém as verga.
Basta pensar a luta de uma cidade inteira “contra a ETRI".
Basta pensar os anos de resistência e luta pela liberdade.

O Barreiro (é isso que algumas pessoas não conseguem entender) é uma terra onde as pessoas sabem lutar pelos seus direitos.
Aprenderam a lutar antes do 25 de Abril e depois do 25 de Abril.
Recordo, por exemplo, quando a Câmara Municipal do Barreiro, durante décadas recusava avançar com a construção do Mercado Municipal do Lavradio, apesar de ser aprovada, em derrama, verba para esse efeito.
Se houve um tempo que não avançou porque não existiam verbas, houve outro tempo que não avançou porque, havia alguém que achava que tal não era uma necessidade, que os Mercados tradicionais estavam a fechar e que com a abertura da Feira Nova, o “povão” do Lavradio que fosse à Feira Nova.
Foi preciso o executivo da Junta de Freguesia, eleito pela CDU, colocar na mesa o seu pedido de demissão e na rua surgirem movimentos de opinião que “empurravam” a necessidade de construção do Mercado Municipal para que a obra fosse em frente.
Claro que, nessas acções, algumas foram de carácter partidário. Nisso, de facto, o Aires de Carvalho era inteligente e sabia colocar-se na crista da onda, chegando a convocar uma vigília a exigir a construção do Mercado.
Foi isso, por vezes, durante alguns anos, com a sua maioria absoluta, ou até mesmo relativa, o PCP/CDU ignorou as realidades locais, o sentir e o pulsar da cidade, colocando-se acima do “povão”, ou, por outro lado, querendo impor ao “povão” noções de vida.
O Mercado Municipal do Lavradio foi construído e, na prática, está provado que foi justo e que tinha público e clientes.
Por outro lado, se um dia deixar de ser rentável, no espaço onde está enquadrado pode nascer um equipamento de carácter sócio-cultural.

Mas, voltemos à reunião da Assembleia Municipal, para recordar que a reunião esperava-se agitada, ao ponto de nas proximidades estar estacionada uma força de prevenção policial e a reunião ter sido acompanhada por agentes policiais.

Os trabalhos decorreram com normalidade, sem qualquer incidente.
Nas suas intervenções os Vendedores Ambulantes colocaram as suas inquietações. Eles não estavam ali para “fazer política” ( daquela marcada pela partidarite aguda), estavam ali para encontrar uma solução para seus dramas, para encontrar soluções e “fazer política” de cidadania.

“Por favor, não fechem a nossa fábrica” - comentava Vilar António. Que grande definição teórica-prática ( a consciência nasce na vida).
Pessoas que sublinhavam como tinham construído uma vida a desenvolver uma determinada actividade económica e, agora, viam abrir-se a possibilidade de ficar sem condições para trabalhar e manterem a sua subsistência. Onde vai uma tendeira arranjar emprego? - perguntava

Foram intervenções dramáticas. Foram intervenções com muita dignidade.
Foram intervenções que deixavam a entender que tudo iria ser feito, que não iriam baixar os braços, porque, afinal, “quem nada tem a perder, só perde as algemas”

Os discursos feitos por pessoas de etnia cigana, com simplicidade nas palavras e a força da razão, deram nobreza ao período de intervenção do público.

As intervenções até podem ter sido previamente pensadas, mas, foram feitas com as palavras e os sentimentos necessários para se perceber a dimensão dos dramas humanos, assim como os problemas sócio-económicos - quer para os Vendedores, quer para os utentes, quer para os fornecedores do Mercado Abastecedor.

Se, de facto, por alguma coisa valeu esta reunião Extraordinária da Assembleia Municipal do Barreiro, foi pelo período de intervenção do público - na sua sinceridade, na sua simplicidade, no seu sentido dramático.

Depois, foi escutar o vereador João Soares, a recordar que – “fui eu que assinei os cartões de vendedor de muitos de vós” - e acrescentou – “fui eu que assinei a carta que receberam, a qual como disseram foi o dia mais triste da vossa vida”.
João Soares a referir que – “o Mercado da Verderena acabou”, e que será preciso encontrar uma solução – “a Câmara não possui terrenos” - recordava. Lançando o apelo à procura de uma solução com o contributo de todos e recordando que isso tem vindo a ser feito, com diálogo, daí o seu ESPANTO pela convocação desta Assembleia Extraordinária. Desmentindo - olhos nos olhos - que o diálogo existente nada tem a ver com “pressões”, como alguns querem fazer crer.

Aqui, não se trata, penso eu, de não querer encontrar uma solução, - estar com dificuldades, no tempo disponível até Setembro, encontrar essa solução.

Existirão razões que obrigam a encerramento do Mercado da Verderena mas, ali, naquela Assembleia ficou demonstrado pelas intervenções do público e não dos políticos, que é preciso encontrar uma solução.

“Por favor, não fechem a nossa fábrica” - recordo as força destas palavras.

Se fosse uma fábrica a fechar com o despedimento de 124 trabalhadores, estavam aí as televisões e os Sindicatos a protestar.

Não me pareceu que a Câmara estivesse indiferente a esta situação. João Soares demonstrou : “fui Vereador dos Mercados no Executivo anterior, sou o Vereador dos Mercados no actual executivo. Antes não encontrei solução. Assumo as minhas responsabilidades. Hoje não encontro solução. Outros que assumam também as suas responsabilidades”.

O Vereador João Soares merecia era, de facto, o apoio e a solidariedade política de todos os partidos, na procura de uma solução.
Nesta matéria só uma força política tem razão para criticar - o PSD. Porque esteve contra o encerramento do Mercado.

Mas, já agora, como nota de rodapé, não se pense que por fechar o Mercado de Levante, se toma uma medida com aceitação na população.

Pensar isso, não será ter uma visão da importância e do papel da “BOUTIQUE ALCOFA” na vida da cidade.
Perguntem na vossa rua, a um vizinho: Se nunca foi à BOUTIQUE ALCOFA? Na minha casa vão!

É preciso olhar para este problema, também, tendo em conta que o “povão” vai à BOUTIQUE DE ALCOFA. Como também vai ao Mercado do Lavradio (onde também h�á um Mercado de Levante).
Não perceber isto, é não perceber a força desta tradição e a importância desta tradição ancestral no concelho do Barreiro.

O Barreiro pode modernizar-se. Podem nascer novas áreas comerciais de características cosmopolitas.

Mas, aqui como em Lisboa, terá que existir sempre, o MERCADO DE LEVANTE ...o mercado do povão, que gosta de sentir o cheiro dos queijos, das frutas, os gritos dos ciganos – “Venha cá senhora!”.

Enfim, o pulsar de uma tradição que pode, isso sim, ser reorganizada, regulamentada e enquadrada no território.

Foi, por tudo isto, que gostei do período de intervenção do público, pelo amor, pela paixão, pelo sentimento, pela força, pelo querer - pela defesa de uma profissão, com orgulho e dignidade.

Afinal, todos eles, deram uma grande lição aos nossos políticos!

Nota - Neste período foi apresentada a proposta de António Cabós Gonçalves. Irei comentar noutro texto.

António Sousa Pereira

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