Segunda-feira, Maio 14, 2007
em AMBIO,
por Pedro Bingre do Amaral
O espantalho ambientalista
Há ideias de início aparentemente secundárias, supostamente inconsequentes, enganadoramente inverosímeis, mas que vão ganhando um enorme ascendente sobre a opinião pública à medida que circulam pelos areópagos sem receberem qualquer contraditório. Uma afirmação absurda constantemente repetida pelas multidões pode ganhar foros de dogma pelo mero facto de se ter tornado familiar à custa de ser repisada. Muitos devaneios ideológicos fizeram carreira dessa forma. Um bom remédio para prevenir o contágio destas ideias absurdas é expô-las ao Sol e aos ares públicos, sobretudo quando ainda estão em germe.
Tudo isto vem a propósito de uma sequência extraordinária de argumentos que vêm sendo expendidos por personalidades algo influentes ligadas à política nacional (que ocuparam cargos públicos de alta craveira no Ministério do Ambiente), dos quais serve de exemplo este notável "post":
http://aartedafuga.blogspot.com/2007/05/origens-do-ecofascismo.html
Por estas e outras peças escritas tentam desacreditar os movimentos ambientalistas insinuando que têm agendas políticas ocultas, ora fascizantes, ora neoluditas, ora misantropas - ora simplesmente lunáticas.
E têm razão, têm quase 1% de razão. Sim, há lunáticos que se autoproclamam ambientalistas; há neoluditas a jactarem-se de amigos do ambiente; há oportunistas económicos a arrogarem-se defensores da natureza, e houve nazis ambientalistas. Porém, por mais mediáticos que sejam esses personagens, não representam sequer 1% da totalidade dos movimentos ambientalistas - no plural, porque o ambientalismo nem sequer se trata de uma entidade monolítica.
Daqui resulta absurdo pretender que, por haver muitos cretinos pintados de verde, todos os ambientalistas são perversos é praticamente uma desonestidade intelectual. Já que tanto apreciam transcrever páginas em Inglês, pena que os mesmos autores não hajam parafraseado uma deste "site" sobre falácias:
http://www.fallacyfiles.org/strawman.html
...e assumissem claramente que estão a criar espantalhos para denegrir o ambientalismo em geral, e indirectamente aquele que se pratica aquém-fronteiras.
De caminho poderiam também aproveitar o ensejo para desmascarar todos aqueles empresários da nossa praça que deprecam os ambientalistas ao mesmo tempo em que vendem serviços ambientais ao Estado Português. Quererão falar nisso? Nas "rent-seeking activities" associadas aos loteamentos de terrenos em áreas protegidas? Nas adjudicações de infra-estruturas, bens e serviços no tratamentos de resíduos? Nas concessões de apoios estatais às energias eólica e nuclear?
Quem defende simultaneamente o liberalismo e ataca o ambientalismo deveria denunciar todos aqueles que, partindo da mesma profissão de fé, se propõem a:
-vender ao Estado serviços ambientais cuja encomenda resultou de pressões ambientalistas;
-receber subvenções ambientais do Estado, directas ou indirectas;
-ocupar cargos políticos de pastas de onde resultem directa ou indirectamente encomendas às empresas que administram;
-legitimar com estudos de impacto ambiental mais-valias resultantes da mera reclassificação urbanística de terrenos em áreas protegidas.
Todas estas actuações ambíguas são comuns a muitos anti-ambientalistas. Porque não falar delas, a bem do liberalismo e da racionalidade em questões ambientais?
Publicado por Pedro Bingre at 12:24 PM
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