A esse propósito, o senhor João Rico, secretário da Junta de Freguesia de Beduído, tece algumas opiniões e comentários que me merecem algumas reflexões, a primeira das quais, é o seu próprio envolvimento nesta operação já que, exercendo mediação enquanto detentor de um cargo público, o dito envolvimento poderá suscitar dúvidas quanto à necessária compatibilidade e ética.
Sabemos que os terrenos sitos a nascente de Canelas são próximos de Albergaria e do local para onde se projectam investimentos de monta, de entre os quais, a plataforma de distribuição logística que servirá os portos de Leixões e Aveiro, a estação do TGV, a ligação ferroviária a Salamanca, e a construção da A29 logo, passíveis de verem alterada a actual classificação de RAN (Reserva Agrícola Nacional) para servirem à construção de infra-estruturas de apoio e, consequentemente, verem o seu valor substancialmente alterado instantaneamente.
A este propósito, diz o senhor João Rico, que ainda não se sabe por onde passará o traçado do TGV mas, “eles depois é que vêem o que devem fazer”.
Claro, e verão seguramente as mais valias que obterão em função do poder negocial que um único proprietário terá junto da entidade interessada, porque o que já se sabe, é que passará neste corredor.“Que a população não deve ter medo de vender”.
Seguramente que os proprietários não terão medo de vender.
Do que deverão ter medo é de vender ao baixíssimo preço que lhes está a ser oferecido, ficando sem as propriedades e sem dinheiro.
“Que a empresa criará 60 postos de trabalho”.
Em troca da alienação da riqueza imensa, que são todos os terrenos desta freguesia, os proprietários passarão de donos, a serventes sazonais com retribuição ao nível do salário mínimo nacional.Não se conhecendo nada em concreto sobre este projecto, excepto a anunciada oferta de compra por parte de um anónimo, não é de descartar a hipótese de se tratar de um negócio especulativo no qual, os proprietários destes terrenos e a freguesia de Canelas, sairão grave e irremediavelmente lesados.
Cada proprietário decidirá se vende ou não, ponderando o preço oferecido, com a perda da propriedade, o valor que os terrenos vão adquirindo dado a sua raridade, o facto de que se os venderem jamais os recuperarão, o seu potencial de valorização, e também de que, os terrenos não comem pão e não se desvalorizam.
De vez em quando, lembram-se de Canelas e infelizmente, raramente é por bem. Compraram-nos os terrenos lagunares para emparcelamento.
Estão ao abandono, a valorizar.
Lamentavelmente, já não serão os antigos proprietários a receber as mais valias. Depois, lembraram-se de nós para aqui virem despejar toneladas de lamas de Etares a céu aberto. Agora querem-nos comprar os poucos terrenos que ainda possuímos ao preço da uva mijona.
Como disse anteriormente, este é um negócio que, de momento, não sendo transparente, dado os projectos previstos para a sua proximidade, mereceria a investigação ou intervenção das autoridades competentes, assim como deveria ser clarificada a moldura que reveste a mediação por agentes ligados ao poder local, o que, só por si, transmite um carácter de oficialidade que poderá não existir.
Ajunte-se que o anúncio se encontra afixado na vitrina da Junta de Freguesia de Canelas, entre posturas e editais reforçando a ideia de que este é um negócio público e não privado.Causa-me igualmente alguma estranheza as declarações do senhor presidente da CME que admite que já teve uma reunião com um representante do anónimo comprador mas, que a autarquia não tem conhecimento oficial do projecto para Canelas.
Mas..., ter-se-á tratado de uma reunião particular? Será segredo?Quanto ao projecto em si, não estará o comprador anónimo interessado em o desenvolver em Beduído? Pode ser que ao preço oferecido e com a ajuda do senhor Rico, a coisa seja mais fácil. Não passa lá é o TGV e fica mais longe de Albergaria mas, quanto aos Kiwis, deverá ser indiferente.
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