quarta-feira, 23 de julho de 2008

Universidade de Verão na Moita - Manual Prático para se fazer fortuna choruda e rápida Parte II


Manual Prático para se fazer fortuna choruda e rápida, à custa do Solo Rural e da actual Reserva Ecológica (REN) na Moita. Lição nº 2

Lição nº 2 – Sobre a rápida libertação de “cash flow”

Introdução

Como vimos anteriormente na Lição nº 1, o segredo é simples:

O esquema consiste na compra de Solo Rural, porventura classificado como REN (modalidade nova em Portugal a partir do Dec.-Lei 93/90 de 19 de Março, e suas sucessivas alterações), e depois na sua passagem com lei ou fora dela para Solo Urbano (possibilidade regulamentada com precisão pelo Artº 72º, nº3, do Dec.-Lei 310/2003 de 10 Dezembro )

Damos assim hoje continuidade, com esta segunda Lição, ao pequeno Curso Prático sobre a arte de se procurar enganar tudo e todos nesta matéria, com ênfase desta vez sobre o acesso rápido a financiamentos “cash”, àquilo que se denomina “el contado”, numerário pilim, pilim, com base nas manobras à maneira, em torno do PDM e da mudança do uso dos Solos.

Vejamos pois o segredo da coisa, aqui na Moita. Que em princípio, será um segredo afinal aplicável noutros lugares, e que por seu turno, já deve ser plágio importado igualmente de outras paragens.

Nesta, como noutras matérias, já quase não se inventa nada.

Como se compreende, o “cash” é fundamental:

Na verdade, pagar um tostão por uma Propriedade, e esperar que ela venha a valer um milhão, é sempre algo de cansativo e demorado.

Pode a coisa estender-se ao longo de 10 anos, que é o lapso de tempo que já leva a Revisão do PDM na Moita.

Ou mesmo estender-se por 12 anos, e assim ocorrer tudo sempre sob alçada de um mesmo Responsável Autárquico local.

Estes períodos parecem pouco para quem analisa as coisas a partir de fora, mas são uma eternidade para quem está até ao tutano metido na jogada, e não precisa de fortuna para os netos, mas antes sim a busca rapidamente e em grande e à francesa para si próprio.

Para mais, os holofotes iluminam hoje a nossa cidade mais do que alumiavam dantes os pitromaxes as aldeias dos nossos bisavôs.

Quer isso dizer que é cada vez mais difícil e demorado, incerto mesmo, encerrar a contento os dossiers, quando as malfadadas leis do regime democrático obrigam quase tudo a discussões públicas, impõem períodos para reclamações por parte das pessoas, com tramitações para cima e para baixo, enfim, e para mais quando se constata que o povo já não come tudo como dantes, nem se põe tão facilmente a jeito e de costas.

O povo está mais esquisito, e só de discussão pública e enfoque ao milímetro sobre cada linha deste Projecto de Revisão do PDM já lá vão 16 meses.

E nada.

Não há nem sombra de novo PDM, nem vê-lo.

Por isso se compreende que a rápida libertação de “cash flow” se torne assim tão premente e necessária.

Por vezes, esse acesso rápido ao “pilim pilim” pode ser dispensado:

Não há bela sem senão, nem regra sem excepção.

Nós aqui no Concelho da Moita temos bem a prova disso.

Por exemplo, a Propriedade de 16.375,40 m2 que referimos como o Terreno a Nascente do Concelho, antiga Propriedade de Herdeiros de Rosa Serrado, no Penteado (ver Lição nº1), foi comprado nas antevésperas de Agosto de 2001 por Pessoas de Lisboa, só terreno, edificação nenhuma.

Na terra constou que o Comprador era um influente habitante do lugar, pessoa muito bem cotada quer junto de grandes Sociedades de Terraplanagens, quer junto do Executivo Municipal. Ainda hoje os Vizinhos, os Comerciantes de porta aberta, os próprios antigos donos da parcela juram a pés juntos que quem comprou, e quem é o dono actual, é essa tal pessoa muito influente.

Como se viu, contudo, para a compra aos Herdeiros da antiga Proprietária recorreu-se ao Bilhete de Identidade e ao Número de Contribuinte de Colegas de Serviço de uma Familiar próxima da dita pessoa influente, pessoas de uma Empresa lá de Lisboa, quem sabe se desconhecedores totais da grande jogada. Seguramente desconhecedores, apenas metidos ao engano no Processo.

Entretanto, muita água encheu e vazou na Caldeira da Moita.

E no Penteado, factos surpreendentes ocorreram também:

  • uma das mais lindas Moradias do Concelho surgiu, é hoje uma realidade,
  • as Pessoas de Lisboa foram entretanto prontamente descartadas,
  • a Parcela de Solo Rural e com Reserva Ecológica (desanexação REN nº18 no Projecto de Revisão do PDM da Moita 2005/2006) teve bingo no Projecto de novo PDM João Lobo e vai a Solo Urbano Habitacional Proposto. Bem, vai ou é para ir, como se queira,
  • E para tudo isso, terá sido necessário recorrer à Banca? Contrair empréstimos? Hipotecar Solo e Construção nova? Constituir-se alguém como devedor, a pagar com língua de palmo mês a mês sabe-se lá com que sufoco a amortização mais o serviço de dívida por algum Empréstimo hipotecário?

Zero, nem um tusto, nada, nem pensar.

Foi tudo com capitais próprios, o que vem mostrar que por vezes não é tão urgente assim a libertação de dinheiro rápido logo após se deitar as galfarras sobre terra antes imprestável, e depois vocacionada a novos Solos Urbanos.

Bem, bem, na verdade, é compreensível que neste caso concreto não fosse preciso um qualquer empréstimo, porque se verifica documentadamente que a dita Moradia de Família, juntamente com a Parcela onde se insere, é afinal propriedade de uma importante Sociedade de Terraplanagens do Montijo, empresa de grandes possibilidades, e a pessoa influente que muito se refere e que a população local considera como verdadeiro Dono, no fim de contas dela só tem a mera posse e o simples usufruto.

É assim como que a modos de um caseiro VIP, de um fiel de armazém de luxo, neste caso fiel de Mansão, autorizado a morar na casa da Empresa e a fazer com ela um vistão junto da vizinhança, sabe-se lá por mor da alma de quem.

Mas em geral, não é assim. Assiste-se quase sempre a uma autêntica corrida ao ouro, mal se escritura e se regista a negociata:

Aquela é a excepção.

A regra é outra, é esta, e bem diferente.

E é assim, tomem bem nota, que pode vir a ser matéria para exame, mais tarde, em breve quem sabe:

Temos por exemplo a Propriedade com 275.720 m2 a poente do Concelho, antiga Propriedade do Senhor Joaquim Manuel Tomás da Cruz, lá nas Fontainhas (ver Lição nº1).

É uma Propriedade desde sempre em Solo Rural, sendo REN desde 1993, cf. o Mapa da REN no Concelho da Moita, ver Portaria nº778/93 de 3 Setembro, publicado a fls. 4656 e 4657 do DR I Série-B.

A fórmula é matemática:

  • Lança-se mão de uma Empresa de Promoção e Venda Imobiliária com uma ressonância ligada à Moita, do tipo imobiliária da Moita ou coisa parecida, na ocasião da compra (Janeiro 2000) com Sede na Rua Pedro de Alenquer, nº 28, 2º J, no Restelo, mas desde então regressada à base, e agora com Sede no Montijo;
  • Pouco depois (Maio 2003), faz-se um novo “corte” para baralhar os perseguidores mais curiosos, e vá de comprar agora uma sonante cooperativa de habitação e construção, coisa do género cooperação entre as partes, com Sede Social também no Montijo, na mesma Morada da Sociedade de Terraplanagens proprietária da Propriedade a nascente do Concelho, no Penteado. É uma Cooperativa de Habitação a comprar Solo Rural em REN, que o Projecto de novo PDM promove a Solo Urbano para Indústria. Tá?
  • Entretanto, vai-se à Banca e libertam-se importantíssimas quantias como garantias de todas as obrigações assumidas e a assumir, em todos os tipos de obrigações bancárias, com a hipoteca dos Terrenos como garantia hipotecária.

Para quem compra a tostão, veja-se por exemplo o valor em espiral meteórica por que é avaliada a Propriedade das Fontainhas:

  • Montante máximo de 393 mil contos em Julho de 2000,
  • Novo montante de 17.642.481,62 Euros (dezassete milhões e seiscentos e tantos mil Euros) em Abril 2003,
  • E de novo 21.760.000 Euros (vinte e um milhões e setecentos e tantos mil Euros) para garantia de abertura de Crédito a 4 Junho 2004,
  • E ainda mais 6.479.500 Euros (mais seis milhões e quase meio de Euros) como montante máximo de garantia das responsabilidades assumidas e a assumir, no mesmíssimo dia 4 Junho 2004.

“Comprar a tostão, valorizar a milhão”: será esta uma frase oca, de mera propaganda, desligada da realidade e por isso talvez enganadora e injusta?

Talvez sim, talvez não.

Vejamos outro exemplo bem concreto:

  • A Propriedade que dá pelo nome de Pinhal do Cabau, fruto de ter sido pertença do falecido Senhor António João dos Santos Cabau, foi comprada em Julho de 1996 pela empresa que actualmente a possui, uma grande construtora barreirense que é dona de quase metade do Concelho da Moita.
  • Na altura, vários dos nossos Vizinhos se interessaram por esse imóvel de 133.040 m2, mas quem o comprou finalmente pagou, segundo a voz do povo, 35 mil contos (versão A), ou 27 mil contos e mais um fato completo e um par de sapatos novos como comissão para o Senhor Manuel B., que agilizou o negócio (versão B).
  • Enfim, terão sido cerca de 30 mil contos, é voz corrente, mais sapatos, menos sapatos.
  • Mas, já em Novembro de 2001 era avaliada por um importante Banco, onde os Clientes também são Donos do dito, reza a publicidade, em 5.055.000 Euros (cinco milhões de Euros, um pouco acima de 1 milhão de contos) como montante máximo de garantia das responsabilidades assumidas e a assumir pela nova Empresa proprietária.

Em cinco anos passou de um valor de compra de cerca de 30 mil contos para um valor de avaliação bancária de pelo menos 1 milhão de contos.

Capisco? Entenderam?

Milagre? Erro de contas? Os Bancos estão loucos? O mundo vai acabar a uma sexta-feira à tarde?

Nada disso, calma, estão a ir pela via errada.

A explicação é outra, e muito clara e simples.

É verdade que os Bancos, qualquer pessoa inexperiente o sabe, odeiam emprestar dinheiro sobre terrenos, fogem desse tipo de operações mais lestos que o demo foge da cruz. E quando admitem hipoteticamente fazê-las, exigem Projectos de Arquitectura, mais Licenças de Construção, mais isto e mais aquilo, e quando finalmente emprestam (só poucos o fazem, e esses fazem-no em geral à data de 29 de Fevereiro), só libertam valores próximos dos 60% dos máximos de avaliação, já de si esta obrigatoriamente feita claramente nas encolhas.

É um calvário, quando se pretende obter um Crédito hipotecário sobre um Terreno, só Terreno.

E se esse Terreno for Solo Rural, para mais em Reserva Ecológica/REN?

Bem, aí é para esquecer. Completamente!

Nem pensar nisso é bom, todo o tempo gasto num processo desses é puramente tempo perdido.

E nestes casos, como foi possível, como é que se faz para que grandes Bancos, extremamente profissionais, mais cautelosos que gato passeando sobre brasas, libertem importantíssimas quantias sobre Terrenos em Solo Rural, REN ie Reserva Ecológica Nacional, que de capacidade construtiva verdadeira, actual, certa, segura, garantida, legal têm Zero, três vezes Zero, Zero, Zero?

  • Como é possível, meu deus (que me seja perdoado infringir o 2º mandamento de uma das religiões de maior sucesso, mas o meu espanto assim me obriga)?
  • Terão esses Bancos endoidado?
  • Haverá mapas secretos com indicação de lençóis de petróleo ou jazidas de diamantes nestas terras?
  • Será o anúncio mesmo verdade? Os donos do Banco na publicidade (Clientes vulgares) poderão mesmo sacar, sacar, à moda dos Donos dos Bancos de facto (Banqueiros)?
  • Andaremos todos nós distraídos, e estarão estas oportunidades à mão de qualquer um de nós, sem delas lançarmos mão?

Calma, nada disso.

O que aconteceu, foi outra coisa.

  • Comprou-se à terça-feira, e assinou-se com a Câmara um protocolo à quarta-feira, porventura mesmo na segunda anterior.
  • E correu-se à Banca dizendo:
  • “O novo PDM vai passar garantidamente esta terra de Solo Rural e em REN para novo Solo Urbano, seja Habitacional Proposto (novas Urbanizações para mais Fogos/Habitações) ou Multiusos Propostos (novas Zonas para Indústria), a prova ou compromisso em Protocolo com carimbo e tudo está aqui, mirem e certifiquem-se com os vossos olhos, e passem mas é para cá a massa e é já, sff”
  • “Mas…o PDM actual (1992/93) ainda fala diferente, a REN actual (1993) ainda reza “terra sem préstimo para construção, como poderemos nós confiar nesses Protocolos?”, balbuciaram os Quadros Superiores dos ditos Bancos.
  • “Simples: Os nossos Amigos estrategicamente bem colocados já passaram a perna ou andam a enredar toda uma Comissão Técnica de Acompanhamento, gente especializada e em cima dos dossiers com dezenas de Reuniões entre 30 Março 1999 e 9 Maio 2005. Quem faz isso e consegue ludibriar e comer as papas em cima da cabeça de tanto doutor, engenheiro e arquitecto, os Senhores que são Bancários têm alguma dúvida que esses nossos Homens lá nos sítios certos não sejam capazes de fazer passar o Projecto de novo PDM junto da populaça, ignorante e desinteressada? Por favor…”
  • Ah!, Tá bem, com Amigos desses, OK, e também com os Protocolos aqui bem arquivados no nosso Banco, é já a seguir, é já a seguir. Quanto é que precisam mesmo? Só cinco Milhões? Só dezassete milhões ali para a mesa do canto? Querem 21 milhões e mais uns trocos, querem? …”

E assim se compreende a boa e correcta forma de rapidamente converter em metal sonante Propriedades compradas em saldo e sem valor algum para construção, em Solo Rural e em REN, muito antes mesmo das mudanças na lei.

Ou melhor, assegurando a realização de tais mudanças 10, e 7 e 4 anos antes mesmo do Projecto de novo PDM vir à luz do dia. Mudanças firmadas em ricos Protocolos. Protocolos que condicionam a Lei. Certo?

Democrático, hein!?

Mudanças que contudo, se as contas saírem furadas a muito boa gente, nunca ocorrerão em forma de lei.

Para desgraça dos Bancos que confiaram.

E dos Mutuários e dos seus Amigos que se apressaram.

Uns podem perder muito dinheiro.

Outros a face.

Entenderam? Querem mais?

Manual Prático para se fazer fortuna choruda e rápida, à custa do Solo Rural e da actual Reserva Ecológica (REN).

Lição nº 3 (Caso Prático)


Entrevista a António Varela

In Correio da Manhã de 20NOV2005


Com o aeroporto da Ota poderei vir a facturar cerca de 500 milhões de euros

Mas, se o aeroporto fosse parar ao Rio Frio (… ou a outro lugar), ainda estaria a tempo para comprar terrenos no redor.

Tal como o fiz há alguns anos na Ota.

Aviso muito importante:

Esta entrevista merece a Classificação: XXXXX

Não é pois recomendável nem a menores nem a cardíacos.

Deve ser lida à luz da documentação principal da Conferência da Moita sobre Política dos Solos, Mais-valias Urbanísticas e Ordenamento do Território

Também ajuda ler numerosos outros textos publicados neste Blogue (ver Arquivos).

Dado ser uma verdadeira “lição prática”, conviria ter presentes muito em especial as lições teóricas 1 e 2 em

  1. O n/ Curso Rápido para se fazer fortuna choruda e rápida, à custa do Solo Rural e da actual Reserva Ecológica (REN) foi pensado para a Moita mas ... (Lição nº 1)

2. Manual Prático para se fazer fortuna choruda e rápida, à custa do Solo Rural e da actual Reserva Ecológica (REN) na Moita. Lição nº 2

Destaques de outras frases significativas:

  • A fórmula de sucesso baseia-se na compra de terrenos em zonas baratas mas atraentes. E que possam vir a ter interesse estratégico para a localização de um armazém de logística. Depois, construimos edifícios, encontramos os inquilinos para pagarem a renda e vendemos o imóvel a um fundo de investimento.
  • É melhor passarmos a falar de hectares. São 650. Alguns custaram-me dez euros. Hoje valem mais de 250. O metro quadrado poderá chegar com facilidade ao dobro, ou seja, 500 euros.
  • Que grande negócio. Até então não valiam mais de 20 cêntimos. Todos ganharam.
  • O Decreto Lei n.o 31 - A/99 de 20 de Agosto de 1999, que impedia todo o tipo de construção na zona. Fiquei com cinco terrenos ‘congelados’ (100 mil metros quadrados). Por causa da lei, vários negócios não foram ainda para a frente. Entretanto, o Decreto-Lei deverá ser revogado para o próximo ano e o Plano Director Municipal reformulado.
  • As boas relações com as câmaras municipais são meio caminho para um negócio de construção ter pernas para andar? Sim.
  • Se o ministro anunciasse que afinal o aeroporto iria para Rio Frio, tem ideia do dinheiro que perderia? Não iria com certeza perder dinheiro, só não teria o mesmo lucro. Mas, se o aeroporto fosse parar ao Rio Frio, ainda estaria a tempo para comprar terrenos no redor. Tal como o fiz há alguns anos na Ota.

In Correio da Manhã de 20NOV2005

Em itálico, as perguntas do(a) Jornalista

António Varela, um engenheiro civil de 55 anos, é o maior proprietário de terrenos para construção imobiliária em redor do futuro Aeroporto da Ota: o equivalente a 650 campos de futebol ou duas Expo’98. O dono da Tiner chegou a comprar propriedades por dez euros por metro quadrado. Hoje, algumas valem 250. E daqui a cinco anos, talvez 500.

O empresário aguarda com confiança a proposta do ministro das Obras Públicas, Mário Lino, sobre os destinos da Ota, na próxima terça-feira, 22. Tem razões para isso. A sua empresa factura 100 milhões de euros. E num futuro próximo poderá chegar aos 500 milhões. No entanto, neste último ano teve dissabores igualmente ligados à aviação. O seu Citation X foi apreendido na Venezuela com cocaína a bordo.

A sua empresa de construção civil, obras públicas, imobiliário, fundos de investimento, a Tiner, tem hoje uma facturação anual de 100 milhões de euros. Quando é que tudo começou?

Quando fundei a Tiner, em 1984, era uma empresa pequena que fazia fundações e infra-estruturas. O grande salto deu-se em 1995, quando fizemos os primeiros grandes armazéns de logística em Portugal, em Alverca. O empreiteiro geral faliu e os responsáveis pelo projecto, a ESAF, ligada ao Grupo Espírito Santo, convidaram-nos para assumir o resto da obra. Concluímos a obra e continuámos a trabalhar com o Grupo Espírito Santo nos anos seguintes.

A fórmula de sucesso baseia-se na compra de terrenos em zonas baratas mas atraentes

E que possam vir a ter interesse estratégico para a localização de um armazém de logística. Depois, construimos edifícios, encontramos os inquilinos para pagarem a renda e vendemos o imóvel a um fundo de investimento. Com o dinheiro investimos em novos imóveis que podem dar origem a ‘outlets’, ‘retails’, ‘shoppings’, escritórios e até habitação.

Quais foram os seus grandes projectos?

A construão do Campera, o primeiro ‘outlet’ em Portugal e o de Grijó, junto a Vila Nova de Gaia. Neste momento, temos dois ‘retails parks’ a ser construidos em Almeirim e no Carregado, um pólo de armazéns em Palmela, junto à Auto-Europa e outro pólo logístico na Azambuja.

Azambuja, Vila Franca de Xira, Alenquer. Três concelhos que têm muito a ganhar com a construção do futuro aeroporto da Ota e onde a Tiner tem comprado muito terreno

Tudo começou quase acidentalmente, em 1997, quando construí três armazéns na Azambuja, a pedido da ESAF. Fui conhecendo o meio, a perceber as suas potencialidades e fui adquirindo propriedades.

Não me diga que em 1997 ainda não se falava no aeroporto?

Muito pouco. Não havia certezas de nada. Só mais perto do ano 2000 é que as coisas se tornaram mais claras.

Quantos metros quadrados comprou nesta zona?


É melhor passarmos a falar de hectares. São 650. Já representam mais de metade dos meus terrenos em todo o mundo. Ainda por cima comprados a pre
ços baixos. Alguns custaram-me dez euros. Hoje valem mais de 250.

Que grande negócio

Sim, mas o preço também agradava aos meus vendedores. Até então não valiam mais de 20 cêntimos. Todos ganharam.

É verdade que o grande salto no preço dos terrenos se deu em 1999 quando a então ministra do Ambiente, Elisa Ferreira anunciou que a candidatura da Ota vencera a de Rio Frio?

Sim. Mas era uma subida artificial já que nessa altura pouca gente comprava terrenos na zona. Ainda hoje o negócio da compra e venda de terrenos perto da Ota é incipiente.

Então e a tão falada especulação imobiliária no Carregado, Alenquer, Azambuja?

A especulação existe. Há quem se dedique apenas à compra e venda de terrenos. Embora se ganhe bom dinheiro com isso, essa não é a minha forma de estar na vida. Não sou um vendedor de terrenos. Sou um vendedor de edifícios prontos a construir nesses mesmos terrenos.

Hoje, com terrenos à venda por 250 euros o metro quadrado, desaconselharia por exemplo um empresário menos experiente a investir na região?

Embora eu não tenha comprado lá nada recentemente, se tivesse um cliente com vontade de investir na Ota, dava-lhe sinal verde. Ele não iria perder dinheiro, embora já não lucrasse tanto como há cinco anos.

Ficou preocupado quando os governos de Durão Barroso e Santana Lopes arrumaram o dossier na gaveta?

Felizmente esse adiamento só se aplicou no concelho de Alenquer, com o Decreto Lei n.o 31 - A/99 de 20 de Agosto de 1999, que impedia todo o tipo de construção na zona. Fiquei com cinco terrenos ‘congelados’ (100 mil metros quadrados). Eram propriedades com valores de mercado muito elevados porque se situavam no núcleo urbano do Carregado. Estavam (e estão) destinadas para um grande shopping. Por causa da lei, vários negócios não foram ainda para a frente.

Perdeu dinheiro com esse adiamento dos governos PSD?

Não. Apenas me incomodou o atraso que o decreto-lei iria causar ao desenvolvimento dos meus projectos. Mas acreditei sempre que o aeroporto da Ota seria irreversível. Entretanto, o Decreto-Lei deverá ser revogado para o próximo ano e o Plano Director Municipal reformulado.

Quando as obras do aereoporto arrancarem, quais são as previsões do seu volume de negócio?

Temos uma estimativa, pessimista, de 500 milhões de euros. Mas poderão ser mais.

Não tem receio que algo possa correr mal pelo caminho
?

O único medo é a nossa economia recessiva. Mas parece que as coisas irão mexer-se mais em 2007.

A Tiner é a empresa com mais terrenos na zona da Ota?

Sim, sou o maior detentor de áreas de terrenos para construção na região. E ainda não tenho muitos concorrentes em redor. O maior talvez seja a Turiprojecto, mas com um volume de negócios incomparável ao nosso.

É sabido que as suas relações comerciais com o Grupo Espírito Santo se mantém nos dias de hoje. Por que não se associou a eles na compra destes terrenos?

Encontrei outros parceiros ligados a fundos de investimentos imobiliários nacionais e estrangeiros que me deram melhores condições financeiras. Não posso revelar nomes, mas avanço que são de nacionalidade alemã e inglesa.

Com a vitória de Sócrates, a Ota voltou à ribalta. Na próxima terça-feira, o ministro das Obras Públicas, Mário Lino, anunciará o projecto da Ota. Espera surpresas?

Não espero surpresas desagradáveis da boca do ministro, que aliás não conheço. Mas tal como ele, acredito que não podemos ficar desligados do resto da Europa, sob o risco de perdermos o comboio do desenvolvimento. O aeroporto é uma forma da economia sair do marasmo.

A 20 de Maio também participou na reunião secreta entre autarcas e empresários da zona do Oeste com Mário Lino a exigir que este definisse um calendário para a construção do aeroporto?

Não, porque passo muito tempo a viajar pelo mundo e não tenho tempo para isso. Mas ouvi falar dela. Infelizmente não sei as conclusões que sa
íram de lá.

Se o ministro anunciasse que afinal o aeroporto iria para Rio Frio, tem ideia do dinheiro que perderia?

Não iria com certeza perder dinheiro, só não teria o mesmo lucro. Mas, se o aeroporto fosse parar ao Rio Frio, ainda estaria a tempo para comprar terrenos no redor. Tal como o fiz há alguns anos na Ota.

As boas relações com as câmaras municipais são meio caminho para um negócio de construção ter pernas para andar?

Sim. Gosto que percebam que não sou um especulador. Os meus projectos imobiliários são desenvolvidos do princípio ao fim.

É amigo dos presidentes das câmaras onde detem estes terrenos: Álvaro Pedro, de Alenquer, Joaquim Ramos de Azambuja, Maria da Luz Rosinha de Vila Franca de Xira?

Dou-me bem com todos eles. São pessoas dinâmicas e com muitas ideias para a região.

Curiosamente são todos políticos do PS

E depois? Neste momento os sociais-democratas são muito mais prejudiciais para nós, porque se opõem ao aeroporto.

Tem lido na Internet os rumores a circular sobre a Ota?

Não tenho lido muita coisa Como defendo que ainda não há verdadeiros negócios relacionados com a Ota, não consigo perceber onde possa haver os tão falados negócios escuros.

Nem quando se fala em ligações mais nebulosas entre poder político e económico?

É mentira. Quando oiço falar de políticos de um determinado partido que seriam detentores de terrenos na Ota, sei que é absoluta mentira. Só se houver uma encenação muito sofisticada sobre os registos de propriedades e no nosso país isso é impossível. Todos os rumores n
ão passam de especulação.

A que se devem estes boatos? Haverá ‘lobbies’ divergentes por detrás deles?

Fala-se de ‘lobbies’: dos da Ota, de Rio Frio, etc. Mas não acho que existam ‘lobbies’ nenhuns. O cidadão comum gosta muito de criar teorias da conspiração.

Diz que ainda não há negócios a sério na Ota. Então quando é que a corrida aos apeteciveis terrenos terá início?

Talvez em 2009 ou 2010, quando começarem as obras. Uma coisa é certa: todo o mundo económico irá instalar-se naquela zona por essa altura. Quanto a mim, não temo a concorrência. Não penso em lucros rápidos.

Será então que o preço dos terrenos voltaráo a disparar?

O metro quadrado poderá chegar com facilidade ao dobro, ou seja, 500 euros. Um valor tão alto como em alguns terrenos em Lisboa.

É um dos homens mais ricos e influentes do país, no entanto evita sair em revistas sociais, não gosta de ser fotografado

Sempre preferi a discrião. Até porque no meu negócio nunca tive muita concorrência. Só passei a ser mais famoso depois do meu avião privado, o Citation X ser apreendido na Venezuela há um ano.

Os aviões e helicópteros s
ão as suas grandes excentricidades?

Gosto de pilotar e de ser dono destes aparelhos. Tenho dois helicópteros: um deles comprado há quatro anos, custou-me 3,6 milhões de dólares. Pelo outro, que tem dez anos, paguei 400 mil dólares. Caríssimos! Uso-os quando vou ver obras minhas no interior do pais. Aos fins-de-semanas vou até às minhas duas herdades, a Quinta da Alegria, em Vila Nova da Rainha, com 360 hectares e o Mouchão do Lombo do Tejo, com 900 hectares.

Que ao que consta é uma ilha paradisíaca no estuário do Tejo.

Corre para aí o boato de que ando a construir ‘resorts’ e hotéis de luxo. É tudo mentira. Convido os forcados da região para treinarem os meus novilhos, sendo eu o único espectador. Noutras ocasiões, faço eu de toureiro. É o meu sangue ribatejano a correr-me nas veias.

Há um ano que, o seu Citation X - o avião privado mais rápido do mundo (custou 15 milhões de euros) está apreendido na Venezuela por transporte ilegal de cocaína. Ainda pensa reav
ê-lo?

O ritmo dos julgamentos foi acelerado desde o encontro de Sampaio com as autoridades venezuelanas. Acredito na libertação de quatro dos detidos (co-piloto, idosa que viajou por convite das duas amigas e dois guardas) e na do avião. O vice-presidente da Venezuela queria ficar com ele mas caiu em si. Até final do ano, o processo será resolvido.

É verdade que está a ter um prejuízo de 250 mil euros por mês por ter o avião apreendido. Quem está a pagá-lo?

Até agora, continuo a arcar com todas as despesas do avião. Mas serei ressarcido pela seguradora, embora não me tenham dado certezas nenhumas. O processo já entrou em tribunal e não haverá volta a dar. Voltarei a ter esse dinheiro.

Porque decidiu fazer um contrato com a Air Luxor, em 2002, dois anos depois de comprar o Citation X?

Foi a Air Luxor que me propôs o negócio: afinal eu só o usava três vezes por mês, tinha de pagar seguro, manutenção, pilotos. Poderia rentabilizá-lo, cedendo-o como uma espécie de táxi aéreo. Era atraente.

Quanto dinheiro é que ganhava com esse acordo?

No início, quatro mil euros por hora. Mas com a recessão, o valor acabou por baixar. Pensávamos que o Citation X voaria mil horas por ano, mas só foi usado 80 horas, o que era muito abaixo das minhas expectativas. Nos últimos meses, estava só à espera do momento certo para terminar de vez o negócio com a Air Luxor. Mas já foi tarde.

E em Outubro de 2004, duas idosas de Arraiolos foram apanhadas com cocaína a bordo. As autoridades nunca o alertaram para as actividades ilícitas ligadas aos voos privados?

De maneira nenhuma. Nunca tive conhecimento de episódios desses. A Air Luxor sempre me deu a confiança de que os voos eram seguros.

Os seus neg
ócios foram afectados pela publicidade negativa?

Talvez, embora de forma indirecta.

Não pensa processar a companhia aérea por danos morais?


Já tinha pensado nisso. Se tivesse nos Estados Unidos certamente que não hesitaria. Mas em Portugal é completamente diferente uma vez que os processos se arrastam nos tribunais eternamente. Só tenho a certeza de uma coisa: quando um dia reaver o Citation X, nunca mais o alugarei. Esta hist
ória bastou-me.

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Acerca de mim

Neste espaço surgirão artigos e notícias de fundo, pautadas por um propósito: o respeito pela Lei, a luta contra a escuridão. O âmbito e as preocupações serão globais. A intervenção pretende ser local. Por isso, muito se dirá sobre outras partes, outros problemas e preocupações. Contudo, parte mais significativa dos temas terá muito a ver com a Moita, e a vida pública nesta terra. A razão é uma: a origem deste Blog prende-se com a resistência das gentes da Várzea da Moita contra os desmandos do Projecto de Revisão do PDM e contra as tropelias do Processo da sua Revisão, de 1996 até ao presente (2008...) Para nos contactar, escreva para varzeamoita@gmail.com