quinta-feira, 19 de julho de 2007

Não necessitou de bater em panelas este genuíno movimento de cidadãos para ser ouvido e receber um amplo apoio de todos os quadrantes políticos...








Bater em Panelas

Participar na discussão da proposta de um Plano Director Municipal (PDM) é um dever de todos. Em causa está o futuro do município onde (se) vive. No caso da Moita do Ribatejo, um movimento de cidadãos começou por não aceitar a proposta de os terrenos onde reside ser classificada como Reserva Ecológica Nacional. Tratava-se da troca de estatuto com uma outra zona que iria (ou irá) ser classificada como zona urbanizável. Este movimento de munícipes, que domina tecnicamente bem a proposta de revisão, alcançou grande visibilidade ao colocar o dedo na ferida: as mais-valias urbanísticas, a arte de, por uma mero acto administrativo, dotar um conjunto restrito de pessoas com a “sorte grande”.

A denúncia sistemática desta proposta chegou às mais altas instâncias, foi recebida por todos os grupos parlamentares, pela Casa Civil do Senhor Presidente da República, interessando jornalistas de referência que publicaram reportagens insuspeitas e deixaram a Moita do Ribatejo em burburinho. Creio que essa investigação foi o fundamento para a intervenção posterior do Ministério Público avaliando eventuais delitos criminais.

João Lobo, Presidente da Câmara Municipal da Moita do Ribatejo, membro do Partido Comunista (PC) que com o Partido “Os Verdes” efectuou a eterna aliança CDU (um caso histórico de empatia política que merece ser estudado), que proclama a democracia participativa na letra dos Outdoors, refere-se a esta acção de cidadania de uma forma que merece ser analisada. Na interpretação que faço das suas palavras, este movimento só é ouvido porque vai para a Praça da República bater em panelas.

Não necessitou de bater em panelas este genuíno movimento de cidadãos para ser ouvido e receber um amplo apoio de todos os quadrantes políticos, excepto, claro está, do PC e do seu aliado que nunca ousou candidatar-se isoladamente a qualquer eleição e cujo nome é “Os Verdes”.

Não precisou de bater em panelas porque, apesar de tudo não ser perfeito, Portugal vive numa democracia e é membro da União Europeia.

Relembrar a figura de bater em panelas revela o profundo mau gosto político de João Lobo. Recordar os tempos miseráveis da ditadura Argentina - onde as Mães da Praça de Maio, todas as Quintas-Feiras, perguntavam ao Governo pelo paradeiro dos seus filhos - só terá alguma analogia política se se entender que os cidadãos da Várzea são a resistência moral e cívica de um processo de revisão do PDM, que está longe de ser uma proposta sustentável e é mais do mesmo, numa região que fez da especulação o enriquecimento de escassos e empobrecimento de muitos cidadãos.

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publicado em terça-feira, 10 de Julho de 2007 no Blogue A Cidade e as Serras, editado por Luís Carloto Marques, Deputado à Assembleia da República, Dirigente do MPT – Partido da Terra e membro do Grupo Parlamentar do PSD em São Bento.

Este artigo pode ser lido nomeadamente à luz da releitura da entrevista do Jornal Rostos ao Presidente da Câmara Municipal da Moita, João Manuel de Jesus Lobo, de 8 Julho ’07, onde este dizia sobre o Movimento Cívico Várzea da Moita …”É um movimento que não tem representatividade. Mas se chegar à Praça da República e começar a bater com força numa panela, toda a gente me ouve”

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Neste espaço surgirão artigos e notícias de fundo, pautadas por um propósito: o respeito pela Lei, a luta contra a escuridão. O âmbito e as preocupações serão globais. A intervenção pretende ser local. Por isso, muito se dirá sobre outras partes, outros problemas e preocupações. Contudo, parte mais significativa dos temas terá muito a ver com a Moita, e a vida pública nesta terra. A razão é uma: a origem deste Blog prende-se com a resistência das gentes da Várzea da Moita contra os desmandos do Projecto de Revisão do PDM e contra as tropelias do Processo da sua Revisão, de 1996 até ao presente (2008...) Para nos contactar, escreva para varzeamoita@gmail.com