sábado, 7 de julho de 2007

A explicação para este problema ao mesmo tempo tão simples de resolver...












Comentário no Blogue A-SUL merece ser bem lido e ponderado.

No final deste texto, veja bem as referências sublinhadas a amarelo.

o josé disse...

A parte mais significativa dos subúrbios que têm alastrado para fora das cidades são estruturas que têm sido projectadas para atingirem o apogeu imediato, enquanto ainda novas, ou na melhor das hipóteses, num prazo máximo de dez anos. O crescimento dos subúrbios tem sido fundamentalmente devido ao envelhecimento das primeiras zonas de ocupação fora do centro das cidades, construídos durante os anos 60 a 80, e que agora, em lugar de serem zonas com uma sólida população e vidas próprias, e não apenas satélites da cidade principal, se tornaram zonas “fora-de-moda” e sem apelo, semi-desertificadas, onde os prédios se degradaram, as ruas sofreram os efeitos da congestão de tráfego causada pelo mau planeamento, e que começam a constituir um verdadeiro anel de isolamento entre as “novas” zonas residenciais e o centro. Ainda porque os preços do imobiliário têm constantemente estado à margem da lei da oferta e da procura o impulso de compra de casa inclina-se sempre para construções mais recentes; sabendo-se que a oferta excede em muito a procura (basta observar a quantidade de fogos construídos nos últimos 15 anos e o crescimento da população), compreende-se apenas que a manutenção de preços hiper-inflacionados é resultado da uma conjugação de interesses que visa alimentar a indústria da construção e das licenças, e das hipotecas e dos juros de empréstimos para aquisição de habitação que por sua vez financiam as primeiras. Investimentos necessária e invariavelmente elevados na compra de casa conduzem a que as pessoas optem, continuamente, por escolher casas recém-construídas, no pressuposto que tal assegurará sempre o seu investimento.

Os subúrbios têm sido criados com o objectivo de darem um retorno ao investimento da construção, o mais rapidamente possível. Assim que o dinheiro tenha sido feito, deixa de haver qualquer incentivo para a manutenção dos lugares. Se se projectassem as casas, as ruas, os prédios de escritórios e casas de comércio com o objectivo de criar algo que durasse durante centenas de anos, verificar-se-ia que o alastramento de construção não seria um problema. Estas zonas nunca se desvalorizariam e, aos poucos, tornar-se-iam naturais prolongamentos dos “centros históricos”, mantendo-se valorizados, pela memória histórica e cultural que os envolveria com o passar do tempo, mantendo-se habitados, dinâmicos e vivos.

Nas nossas cidades assistimos, porém, ao fenómeno inverso: como se fossem maçãs de casca reluzente, mas podres por dentro, elas têm na periferia uma faixa de construção recentíssima, cheirando ainda a nova, mas que rodeia um centro cada vez mais envelhecido e abandonado em que ninguém quer, nem pode pensar em viver.

Enquanto as forças vigentes (de mercado, económicas, culturais, sociais) continuarem a conjugar-se de forma a fazer com que os cidadãos tenham de justificar a escolha que fazem da sua casa, com base não em factores como a proximidade a transportes públicos e a escolas, pelo facto de se poderem deslocar nestes para o emprego ou poder usar as ditas para os seus filhos, mas antes porque estas estruturas representam factores que diminuirão o já esperado decréscimo de valor do seu “investimento”, enquanto os valores dos empréstimos contraídos se “justificarem” apenas com a aquisição de casas novas, a construção irá sempre continuar a alastra-se, consumindo um recurso finito e não renovável, que é o espaço físico que ocupamos com as nossas construções, em vez de o mantermos ocupado com a forma mais tradicionalmente sustentável, seja com a agricultura seja com a floresta nativa. Em ultima análise os subúrbios afastar-se-ão cada vez mais dos centros, e os seus ocupantes terão de atravessar extensões cada vez maiores de bairros degradados e pouco convidativos, que, ironicamente distam muito menos dos locais onde trabalham. Talvez quando tivermos de fazer 100 quilómetros por dia em transportes reconheçamos que este modelo de crescimento de cidades descartáveis não correspondeu às nossas expectativas daquilo que pensámos ser viver numa cidade.

7/05/2007 11:16:00 PM

A explicação para este problema ao mesmo tempo tão simples de resolver, mas tão demorado e complexo de assumir por gerações de dirigentes políticos portugueses de 1965 a esta parte, mas entretanto já largamente assumido e implementado da Califórnia à Suécia, passando pela Grã Bretanha, Holanda, Bélgica, Alemanha ou Espanha, pode ser encontrada com clareza mediana aqui:

Blogue Ambio publicou um importante texto de Pedro Bingre do Amaral, Docente Universitário:

Caos urbanístico em Portugal: escolha política ou fatalidade cultural?

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