Segunda-feira, Julho 09, 2007
MATAR AS CIDADES E A LIBERDADE
Sistemáticamente temos aqui criticado a expansão urbana irracional em mancha de óleo sobre os espaços verdes, terrenos agrícolas, florestas...olhando quase sempre para o prisma ambiental e do cidadão em oposição ao lucro fácil e ao pato-bravismo apoiado e promovido pelas autarquias.
Mas alertámos várias vezes para a questão social que é a desertificação e morte dos centros urbanos mais antigos (implicando a criação de novas estruturas nas sempre crescentes periferias;escolas, centros saúde...).
Outra questão não menos importante a ter em conta tem a ver com a insustentabilidade económica desta filosofia (e um cada vez mais provável crash no imobiliário).
As pessoas vêem desvalorizadas as casas nas zonas mais antigas desta banda , não as conseguem vender porque há uma oferta desmesurada de casas novas nas periferias crescentes, as casas degradam-se, ficam devolutas , estão anos para vender...e isto mexe com a vida das pessoas pois não estamos a falar de especuladores, mas de cidadãos dependentes de empréstimos bancários...
Seria de esperar que as autarquias Comunistas tivessem outra forma de gerir o território, defendendo os cidadãos, em deterimento de favorecerem a engorda dos grandes grupos económicos da construção e os bancos cujos lucros sempre... depois... de forma avulsa contestam...Convido-os a ler o testemunho aqui deixado há alguns dias pelo leitor O.José:
"A parte mais significativa dos subúrbios que têm alastrado para fora das cidades são estruturas que têm sido projectadas para atingirem o apogeu imediato, enquanto ainda novas, ou na melhor das hipóteses, num prazo máximo de dez anos.
O crescimento dos subúrbios tem sido fundamentalmente devido ao envelhecimento das primeiras zonas de ocupação fora do centro das cidades, construídos durante os anos 60 a 80, e que agora, em lugar de serem zonas com uma sólida população e vidas próprias, e não apenas satélites da cidade principal, se tornaram zonas “fora-de-moda” e sem apelo, semi-desertificadas, onde os prédios se degradaram, as ruas sofreram os efeitos da congestão de tráfego causada pelo mau planeamento, e que começam a constituir um verdadeiro anel de isolamento entre as “novas” zonas residenciais e o centro.
Ainda porque os preços do imobiliário têm constantemente estado à margem da lei da oferta e da procura o impulso de compra de casa inclina-se sempre para construções mais recentes; sabendo-se que a oferta excede em muito a procura (basta observar a quantidade de fogos construídos nos últimos 15 anos e o crescimento da população), compreende-se apenas que a manutenção de preços hiper-inflacionados é resultado da uma conjugação de interesses que visa alimentar a indústria da construção e das licenças, e das hipotecas e dos juros de empréstimos para aquisição de habitação que por sua vez financiam as primeiras. Investimentos necessária e invariavelmente elevados na compra de casa conduzem a que as pessoas optem, continuamente, por escolher casas recém-construídas, no pressuposto que tal assegurará sempre o seu investimento.
Os subúrbios têm sido criados com o objectivo de darem um retorno ao investimento da construção, o mais rapidamente possível. Assim que o dinheiro tenha sido feito, deixa de haver qualquer incentivo para a manutenção dos lugares.
Se se projectassem as casas, as ruas, os prédios de escritórios e casas de comércio com o objectivo de criar algo que durasse durante centenas de anos, verificar-se-ia que o alastramento de construção não seria um problema.
Estas zonas nunca se desvalorizariam e, aos poucos, tornar-se-iam naturais prolongamentos dos “centros históricos”, mantendo-se valorizados, pela memória histórica e cultural que os envolveria com o passar do tempo, mantendo-se habitados, dinâmicos e vivos.
Nas nossas cidades assistimos, porém, ao fenómeno inverso: como se fossem maçãs de casca reluzente, mas podres por dentro, elas têm na periferia uma faixa de construção recentíssima, cheirando ainda a nova, mas que rodeia um centro cada vez mais envelhecido e abandonado em que ninguém quer, nem pode pensar em viver.
Enquanto as forças vigentes (de mercado, económicas, culturais, sociais) continuarem a conjugar-se de forma a fazer com que os cidadãos tenham de justificar a escolha que fazem da sua casa, com base não em factores como a proximidade a transportes públicos e a escolas, pelo facto de se poderem deslocar nestes para o emprego ou poder usar as ditas para os seus filhos, mas antes porque estas estruturas representam factores que diminuirão o já esperado decréscimo de valor do seu “investimento”, enquanto os valores dos empréstimos contraídos se “justificarem” apenas com a aquisição de casas novas, a construção irá sempre continuar a alastra-se, consumindo um recurso finito e não renovável, que é o espaço físico que ocupamos com as nossas construções, em vez de o mantermos ocupado com a forma mais tradicionalmente sustentável, seja com a agricultura seja com a floresta nativa.
Em ultima análise os subúrbios afastar-se-ão cada vez mais dos centros, e os seus ocupantes terão de atravessar extensões cada vez maiores de bairros degradados e pouco convidativos, que, ironicamente distam muito menos dos locais onde trabalham. Talvez quando tivermos de fazer 100 quilómetros por dia em transportes reconheçamos que este modelo de crescimento de cidades descartáveis não correspondeu às nossas expectativas daquilo que pensámos ser viver numa cidade."
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