Tive um sonho...Sonhei que alguém que já correu mais mundo do que eu corri, e que já viu coisas que eu não vi, me soprou um plano secreto ao ouvido
E ouve bem, mas não contes a ninguém...
Então costuma ser assim:
Nada do tipo das contas e dos planos das famílias pobres ou remediadas, que não podem pensar no mês seguinte, porque estão assoberbadas sempre com o mês que corre.
Nelas, os planos são do dia em que se recebe, até ao dia em que se tem que pagar.
Com os grandes, muito grandes, é tudo diferente.
Pode sonhar-se a 20, 30 ou mais anos.
É assim, por vezes, que quem assiste ao início de uma jogada, normalmente não vê o seu desfecho.
E quem vê o xeque mate, não estava lá na hora do primeiro movimento do peão.
Ora vê só, meu menino, disse-me baixinho a voz amiga no meu sonho:
Há países que eu já visitei e cenas que eu já vivi, onde, por mecanismos complexos, primeiro se esvazia uma terra com elevado potencial.
Por exemplo, desclassificando-a repentina e brutalmente.
Passando-a da noite para o dia de terra de valor normal, ou até mesmo de valor muito interessante, para uma nova classificação onde essa terra vale zero ou quase zero.
Passo seguinte, assiste-se à sua desertificação.
Na verdade, as populações desesperam, sentem-se tristes e frustradas, debandam pela lei da vida mais elementar: vão sobreviver para outro lado.
Logo mais, vem o poisio.
Deixa estar, temos tempo, há alguém avisado que aconselha que se deixe assentar a poeira da revolta e do protesto.
Quando as coisas estiverem mais serenas, volta-se a brandir a arma da classificação da terra.
Onde se esvaziou, agora enfuna-se.
E ela volta a valer de novo mais. Mais, muito mais.
Com uma diferença:
Nos tempos que correm, antes valera para produzir e dar ocupação a muitas pessoas, proprietários, familiares seus e seus trabalhadores.
Depois, irá valer como terra de lazer, de serviços de qualidade a quem vier a poder pagar, para grande gáudio do grande mestre.
O mestre alquimista que retirou valor, teve paciência para comprar na maré baixa e esperar pelo voltar a encher da maré.
Na verdade, ele não retirou valor.
Alguém retirou por ele.
Pssiuuúu... dorme, dorme meu menino, disse-me com ternura a voz amiga que me soprou ao ouvido esta estória de inventar.
Dorme, dorme, dorme meu menino.
Sem comentários:
Enviar um comentário