Uns de milho, outros de maís, muitos de entre eles são de facto farinha do mesmo saco.

A pequena e a grande corrupção têm uma ligação umbilical neste nosso Portugal

Ora vamos lá reflectir um pedacinho.

O Senhor Bento fez umas poupanças e foi informado que, com mais um pequeno crédito à construção, até pode fazer uma casinha.

O grande promotor imobiliário, chamemos-lhe por exemplo Senhor Emídio, por seu turno, quer fazer muitas mas muitas casinhas mesmo.

O que fazem um e o outro?

Bem, o Senhor Bento tenta descortinar se existirá um técnico da Câmara Municipal que reúna de preferência as seguintes condições:

• Ter uma influência determinante no interior da Câmara Municipal em tudo o que respeite aos processos de aprovação e fiscalização dos Projectos e das Obras necessárias, e…
• Procurar ganhar uns dinheiritos por fora, fazendo Projectos para a própria Câmara onde é funcionário.

Chama-se a isso o 2 em 1, pensa o Senhor Bento:

• Pagar o Projecto a alguém, terá sempre que o fazer;
• Dizem-lhe e ele embarrila que pagar umas luvas lá na Câmara para olear, facilitar e acelerar as decisões, isso também terá de fazer;
• Ora…se puder juntar numa só pessoa os 2 pagamentos, sempre poderá por atacado pagar menos a 1 pessoa do que teria de pagar a 2 diferentes.

Evidentíssimo.

Só há um pequeno problema.

• É que o dito técnico que concilia uns trabalhitos por fora nas horas vagas juntamente com um papel decisivo na instrução e fiscalização dos seus próprios Processos internamente, lá na Câmara, não pode assinar os Processos, não pode ser o autor dos Projectos que ele próprio irá julgar e fiscalizar.

Está na cara.

Como se dá a volta a esta pequena contrariedade, só por si capaz de inviabilizar a manobra de corrupção entre o Senhor Bento e o Técnico Camarário?

É simples.

• Arranja-se um outro Técnico que, embora estranho ao Processo, apesar de ser desconhecedor do Projecto, mau grado ser de fora da Câmara, aceite “adoptar” o Projecto, emprestando-lhe o seu nome e assinatura, a troco de uma pequena parte dos dinheiros ou dos pagamentos envolvidos.

E “é justo” que seja recompensado.

Afinal, sem a sua assinatura às cegas, sem conhecer os assuntos mas mesmo assim aceitando chamar-lhe seu, sem a sua prestimosa cooperaçãozita…a corrupção em causa não teria pés para andar.

Era facilmente posta a nu.

A coisa não funcionava.

Logo, como se vê, a assinatura emprestada pelo 2º Técnico, se não vale ouro, quase.

E se por acaso acontece que este 2º Técnico, por qualquer motivo exterior ao Município, esteja impedido de receber quaisquer dinheiros, por exemplo, por se encontrar vinculado a uma qualquer situação de exclusividade lá onde quer que seja?

Bem, aí adopta-se o seguinte plano:

• As compensações e os dinheiros recebidos entram todos, sem excepção, pela porta do cavalo, sem se dar cavaco às Finanças, claro;
• Reza-se para que a coisa não seja concatenada, para que ninguém nunca descubra a ligação nem faça o somatório tão simples de 2+2.
• Deixa-se passar tranquilamente os anos, muitos e bons de preferência;
• E…se alguém algum dia levantar matreiro a ponta de tão nebuloso véu, dir-se-á e jurar-se-á a 7 pés que os Projectos eram mesmo do 2º Técnico, para livrar a marosca da assinatura emprestada, e que ele os fez a todos à borla e por mera carolice, para livrar a outra marosca das incompatibilidades, face a funções exclusivas do dito 2º Técnico.

Simples?

Quase.

E se calhar na rifa um Jornalista a sério, daqueles que fazem perguntas e cuidam da consistência das respostas, isto é, gente bem diferente da laia dos Governadores armados em totós e dos Presidentes feitos de parolos dos organismos de controlo da Banca, por exemplo?

Bem, aí, sai da manga a velha táctica que diz que a melhor defesa é o ataque.

E, ao mesmo tempo que nada se esclarece, atira-se ao Jornalista aquela frase clássica do tipo “o Senhor é um assassino”.

De carácter, acrescenta-se baixinho.

E a coisa passa, com 2 muletas cruciais:

1. A ajuda fundamental dos medrosos, rachados e outros cobardolas travestidos de “Senhores Sim-Sins” dos Serviços envolvidos, que não ousam durante décadas pôr a verdade a nu, com miaufa de perder o pão e pavor de verem os Padrinhos negar-lhes à carreira um empurrão;
2. A ajuda de grande parte da classe política, esperta e cautelosa e sempre cuidadosa em demasia dos próprios telhados de vidro.

Mas…que ligação tem tudo isto afinal a ver com os milhões procurados e conseguidos pelo grande promotor imobiliário, por exemplo o tal Senhor Emídio, que por seu turno quer fazer muitas casinhas?

Bem, a táctica dele é em tudo semelhante, mas com muitos mais zeros à direita.

Quem quiser ver como é, saiba mais aqui. Ou ali. Ou mais além.

Uma coisa é certa.

Uns de milho, outros de maís, muitos de entre eles são de facto farinha do mesmo saco.